domingo, 30 de agosto de 2009

Audiência Pública na Serra (ES) coloca democratização da mídia e Conferência de Comunicação na agenda da sociedade

Após Vitória, Cariacica e Assembleia Legislativa, chegou à vez do município da Serra (ES) se engajar de vez no debate sobre a importância da democratização da mídia no Brasil e a necessidade da realização da 1ª grande Conferência Nacional de Comunicação.

A Câmara Municipal da Serra abriu seu espaço para uma audiência pública, em que os segmentos mais variados da sociedade civil puderam, por mais de três horas, debater e refletir acerca da realidade dos meios de comunicação em nosso país.
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E foi exatamente isso que mais se destacou na audiência, a diversidade de pessoas e de segmentos. Estavam ali representados os direitos humanos, a educação, a imprensa local, o movimento popular serrano, os estudantes, o sindicato dos portuários, prefeituras, Pastoral da Criança, instituto Portas Abertas, entre outros. A iniciativa do evento foi da bancada do PT, formada pelos vereadores Lourência Riani e Roberto Carlos.




Todos eles puderam assistir às palestras dos professores da UFES Fábio Malini e Edgar Rebouças, da presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Espírito Santo Suzana Tatagiba, da secretária de Comunicação da prefeitura da Serra Mirela Adams, e do integrante da Comissão Capixaba Pró-Conferência Nacional de Comunicação, o jornalista Max Dias.

Max Dias abriu os debates destacando a relação conflituosa entre os grandes veículos de comunicação e os movimentos sociais. Estes últimos, segundo Max, são demonizados e sempre tratados de forma amplamente negativa pela mídia, a qual os rotula de baderneiros em diversas situações. Cabe lembrar ainda a intensa criminalização das rádios comunitárias pelas grandes redes de TV Aberta.




Suzana Tatagiba fez uma comparação entre a água tratada que recebemos em casa e a qualidade da programação da TV. Ela disse que, no primeiro caso, exigimos uma água de qualidade, sempre limpa e pura. Caso ela chegue suja aos nossos lares, temos onde reclamar. Ao contrário do que ocorre com a TV, que oferece um conteúdo de qualidade duvidosa, muitas vezes impróprio para as crianças. Segundo a presidente do sindicato dos jornalistas capixabas, no caso da televisão, o cidadão não dispõe de meios para reclamar e exigir uma programação melhor, com cultura, educação e informação de qualidade.

No caso acima, vale lembrar que emissoras de rádio e TV são concessões públicas, cedidas pelo Governo Federal e pelo Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado) em nome da sociedade e com diversas obrigações constitucionais e legais, como qualquer outro serviço público (transporte, água, telefonia, energia elétrica, entre outros).

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Suzana Tatagiba deixou explícita a importância da Conferência Nacional de Comunicação, mesmo com a saída de grande parte do empresariado da mídia (restaram somente os representantes das empresas de telefonia e da Rede TV! e da Band). Espaço que, segundo ela, poderá tratar de temas relevantes, como o controle público e social dos meios de comunicação, assunto proibido para os concessionários de radiodifusão.

Quem falou sobre a campanha “Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania” foi o professor e integrante desse movimento Edgar Rebouças. Ele lembrou das conquistas que a campanha pela ética e o respeito aos direitos humanos na televisão brasileira já obteve desde 2002, quando tudo começou.

Um exemplo, segundo Rebouças, foi o fim do programa “Tardes Quentes”, apresentado por João Kleber, fato este que ocorreu graças à pressão da sociedade civil organizada por mais qualidade de conteúdo na TV e respeito a grupos sociais constantemente ofendidos pelo apresentador.
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Além disso, a Rede TV!, lembrou o professor, foi obrigada a veicular no mesmo horário daquela atração uma série de programas sobre direitos humanos, o Direitos de Resposta. Um belo exemplo de como a sociedade, de forma consciente e organizada, pode e deve intervir no que é exibido pela televisão aberta. Edgar Rebouças falou ainda da luta por uma legislação que restrinja a publicidade voltada para as crianças, tema este que faz parte de inúmeros projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional.

Mas os debates na audiência pública não ficaram apenas na qualidade da programação da TV e no controle social sobre ela. A internet e as novas tecnologias foram os assuntos que permearam o discurso do professor Fábio Malini. Entre os destaques de sua fala, temas delicados em tempos de convergência de mídias, como os direitos autorais e as tentativas de censura ao funcionamento da Internet por meio de projetos de lei.

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Malini abordou ainda algumas questões relativas à implantação da TV Digital no Brasil, entre elas um tema bastante polêmico. O interesse dos radiodifusores em bloquear cópias de programas exibidos pela nova TV. Uma prática antiga, desde o velho videocassete, que os empresários de rádio e televisão querem tirar do telespectador. Termo este que, para Malini, está mudando para o de usuário, em virtude da possibilidade aberta de interatividade na TV Digital, além da presença cada vez maior da Internet no dia a dia dos brasileiros, que transforma a antiga figura do telespectador e receptor passivo diante do aparelho de TV em agente ativo, um produtor e emissor de conteúdo.

Malini explicou também que existe uma disputa entre as empresas de telefonia e as de radiodifusão (emissoras de rádio e TV) quanto à produção e distribuição de conteúdos audiovisuais, agora permitidos pela convergência tecnológica (celular que capta sinais de TV, que exibe vídeos, etc), mas que ainda carece de regulamentação.

Mirela Adams, secretária de Comunicação da Serra, fez questão de salientar a forte imprensa local existente no município, como os jornais impressos e as rádios poste e comunitárias. Ela disse ainda que a luta por uma Conferência Nacional de Comunicação é antiga e tem sido travada há quase duas décadas pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), uma das entidades presentes nas discussões da Conferência.

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Agora, a próxima etapa no Espírito Santo rumo à Conferencia no final do ano, em Brasília, é a Conferência Regional Livre de Comunicação. O evento está marcado para acontecer no dia 12 de setembro (sábado), das 08h às 18h, no Centro de Artes da UFES, em Vitória. Quer saber os detalhes e como se inscrever? Acesse o sítio da Comissão Capixaba Pró-Conferência Nacional de Comunicação.

Participem e até a próxima!

sábado, 15 de agosto de 2009

Conheça o movimento Pró-Conferência Nacional de Comunicação do Espírito Santo


Desde março de 2009, a Comissão Pró-Confecom do Espírito Santo se reúne para coordenar o processo da Conferência de Comunicação no estado. A partir daí, foi tirada uma Comissão Mobilizadora que passou a realizar reuniões periódicas organizativas.

Essa comissão iniciou um movimento de mobilização com setores da sociedade civil organizada (CUT, Abraço, Enecos, ONGs, Coletivo Intervozes, Federação das Associações de Moradores do ES-Famopes, sindicatos, Centro de Referência da Juventude, representantes do Poder Público em suas várias esferas, entre outros).
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Membros do Movimento Pró-Confecom do ES


Com o apoio de parlamentares foi possível realizar duas Audiências Públicas. A primeira ocorreu no dia 18 de maio, na Câmara Municipal de Vitória, proposta pelo vereador Alexandre Passos (PT-ES). O evento contou com a participação do Secretário de Estado de Comunicação do Pará, Fábio Castro.


Através do seu presidente, o deputado estadual Cláudio Vereza (PT-ES), a Comissão Permanente de Cultura da Assembléia Legislativa convocou outra Audiência Pública, realizada no dia 18 de junho. O debate teve a colaboração do coordenador da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço) e secretário geral do Fórum Nacional pela Democratização (FNDC), José Luiz Sóter.

O grupo Pró-Confecom também realizou três etapas do seu Ciclo de Formação, com os seguintes temas: A experiência de criar uma TV Comunitária; Cultura Digital e Mídia Livre; e a Construção de Sistema Público de Rádio e TV.

A Comissão tem participado ativamente de várias atividades, entre elas: Congresso Estadual da CUT (CECUT), Congresso dos Jornalistas, Conferência sobre Direitos Humanos e os movimentos em defesa da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista e contra o AI-5 Digital.

Na última reunião da Comissão Mobilizadora que aconteceu no dia 15 de julho ficou definida a realização de uma Conferência Regional de Comunicação nos dias 26 e 27 de agosto, envolvendo municípios da Grande Vitória. Serra, Viana, Cariacica e Vitória já confirmaram sua participação.

No dia 17 de julho foi encaminhado ofício solicitando uma audiência com o governador do Estado, Paulo Hartung, para definir a realização da nossa etapa estadual, mas ainda não houve retorno.

domingo, 9 de agosto de 2009

Temas e Propostas para a Conferência Nacional de Comunicação

Com a participação de sociedade civil, poder público e empresários (isso se estes não abandonarem o barco antes da hora), a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) promete ser um espaço democrático e plural de discussão acerca do atual modelo de comunicações em nosso país. Mas o que será (ou merece ser) discutido na Confecom, marcada para ser realizada em dezembro?

Face à realidade da comunicação no Brasil – concentração da propriedade dos meios, controle de emissoras de rádio e TV por políticos, legislação atrasada (datada dos anos 60) em relação ao cenário de convergência das mídias, domínio do setor privado em detrimento do público, falta de controle social, criminalização das rádios comunitárias, entre outras questões – são inúmeras as possibilidades de temas e propostas a figurarem nos debates da 1ª Confecom no intuito de mudar o cenário de barbárie instaurado historicamente nas comunicações do país .

A seguir, o blog Mídia Aberta lista algumas propostas que podem e devem ser exploradas nas discussões e, até mesmo, servirem como encaminhamentos se houverem deliberações por parte dos participantes da conferência.

Radiodifusão Comunitária:

· Municipalizar o processo de outorgas de concessão de rádios comunitárias, imprimindo mais rapidez na liberação desse tipo de emissora, evitando, assim, a influência política no processo;
· Caso sejam municipalizadas, criar fundos públicos para manter o funcionamento desses veículos, sem a necessidade do ingresso de publicidade na programação;
· Ampliar o número de canais distribuídos por município (atualmente é um canal apenas);
· Aumentar o raio de alcance das rádios comunitárias (atualmente o limite é de 1Km) e também sua potência de transmissão (que hoje não pode passar de 25watts);
· Permitir a formação de redes entre as emissoras de uma mesma cidade ou estado, hoje permitida apenas em casos de calamidade pública, guerras ou epidemias;
· Criar conselhos de gestão e de programação, com participação de moradores da comunidade onde a rádio está instalada;
· Utilizar recursos dos fundos públicos a serem criados na formação em cursos de comunicação comunitária.


Concessões de Rádio e TV:

· Criar mecanismos de controle público sobre as concessões de rádio e TV, utilizando meios como a Internet ou plebiscitos na avaliação da programação veiculada pelas emissoras;
· Permitir à população, de forma pública e transparente, o acompanhamento de todo o processo de outorga ou renovação das concessões de rádio e TV;
· Disponibilizar no sítio do Ministério das Comunicações, da Câmara dos Deputados e do Senado Federal todas as informações acerca das datas de início e do fim de uma concessão de radiodifusão;
· Disponibilizar nos três sítios citados acima a lista completa de nomes de sócios e/ou diretores e as respectivas emissoras que estão sob suas responsabilidades, o que não é feito mais hoje;
· Ao conceder ou renovar uma outorga de rádio ou TV, utilizar critérios mais rígidos, e que respeitem de fato a Constituição Federal, tais como: ter programação educativa e cultural em horário acessível para a audiência; abrir espaços para o conteúdo regional e independente em mais de um terço da programação, concedendo tempo maior nos fins de semana; criar ouvidorias ou observatórios, formados por cidadãos comuns, voltados à análise crítica da programação das emissoras; e respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente no que diz respeito ao cumprimento da Classificação Indicativa; respeitar o máximo de 25% de publicidade nas grades de programação, entre outros;
· Congresso Nacional e Ministério das Comunicações devem realizar periodicamente audiências públicas em diferentes cidades e locais a fim de discutirem com a sociedade a renovação das concessões de rádio e TV;
· Suprimir o parágrafo 4º do artigo 223, da Constituição Federal, o qual diz que “o cancelamento da concessão ou permissão, antes de vencido o prazo, depende de decisão judicial”;
· Proibir terminantemente o controle de veículos de rádio e TV por políticos, e impedir de disputar eleições o candidato que controle direta ou indiretamente (por meio de parentes ou familiares) uma concessão de rádio e TV, respeitando, assim, o artigo 54 da Constituição Federal;
· Colocar critérios educativos, culturais e informativos acima do econômico e do técnico na concessão de uma emissora de rádio ou TV.


Sistema Público de Comunicação:

· Adotar uma política efetiva de formação de uma rede pública nacional de rádio e televisão, aliando emissoras educativas estaduais às emissoras de Empresas Brasil de Comunicação (EBC), como a TV Brasil, por exemplo;
· Deixar para as entidades da sociedade civil organizada a indicação de nomes para a composição de representantes no Conselho Curador da TV Brasil, já que atualmente os membros daquela instância são escolhidos e nomeados pelo Presidente da República;
· Criar um fundo público federal, a partir da taxação das emissoras privadas pelo seu uso do espectro de radiofrequência ou das multas que porventura recaírem sobre as empresas, para fomentar a expansão e a modernização de uma rede nacional de radiodifusão pública;
· Utilizar o maior espaço do espectro de radiofrequência trazido pela TV Digital e abrigar as emissoras legislativas estaduais e municipais em canal aberto, emissoras estas, em sua maioria, apenas presentes na TV Paga;
· Criar uma rede institucional de rádio e televisão, utilizando o potencial e o maior espaço de radiofrequência da TV Digital, formada pelas emissoras legislativas de estados e municípios, além dos veículos controlados diretamente pelo Governo Federal (NBR, TV Brasil – Canal Integracíon e Rádio Nacional, por exemplo);
· Oferecer a Telesur (Televisão Sul-Americana) integralmente em canal aberto para todo o país, utilizando a estrutura atual da radiodifusão pública;
· Permitir, através de nova legislação, a multiprogramação em todas as emissoras públicas, culturais, legislativas e educativas em processo de digitalização, o que atualmente, por norma do governo federal, só é permitido às emissoras de TV controladas diretamente pela União.

Controle e Propriedade dos Meios:

· Proibir, terminantemente, a prática inconstitucional e ilegal do monopólio e/ou oligopólio dos meios de comunicação, regulamentando, dessa forma, o parágrafo 5º do artigo 220 da Constituição Federal brasileira;
· Proibir a propriedade cruzada dos meios de comunicação, como acontece hoje com praticamente todos os grandes grupos nacionais e regionais de mídia;
· Colocar a proibição do monopólio e/ou oligopólio e da propriedade cruzada dos meios de comunicação como critérios para a outorga e renovação de concessão de emissoras de rádio e TV.

Internet:

· Implantar, como política pública efetiva, a criação das Cidades Digitais em todos os municípios do país;
· Implantar, com recursos públicos federais, uma infraestrutura pública de internet (backhaul) que proporcione, de forma gratuita, o acesso gratuito à Internet para a população;
· Tornar política pública de Estado, e não mero projeto de governo, a criação de Telecentros Comunitários e Pontos de Cultura nas regiões mais pobres do país, com oferecimento de cursos de formação em informática, produção de conteúdo digital e audiovisual e acesso gratuito à Internet.
· Parte dessas políticas poderia ser fomentadas com recursos do Fundo de Universalização das Telecomunicações (o Fust);
· Extinguir todos os projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional que buscam censurar ou interferir no acesso, no uso e no funcionamento livre da Internet.

Educação para a Mídia:

· Incluir na grade curricular do sistema de ensino básico e médio de todo o Brasil uma disciplina voltada para a formação e à leitura crítica dos meios de comunicação;
· Como atividades extracurriculares (ou obrigatórias), implantar a Educomunicação, em que os alunos aprenderão a dominar os vários meios de comunicação no intuito de produzir e distribuir conteúdos ajudando, assim, a ter uma outra visão das funções a serem cumpridas pela mídia;
· A rede de TV pública, juntamente com as rádios comunitárias, dedicarão espaço às produções elaboradas pelos estudantes.


Antes de concluir este artigo, vale lembrar que as propostas listadas acima, possíveis de serem debatidas e deliberadas na Conferência Nacional de Comunicação, são inspiradas em inúmeros estudos e relatórios produzidos pelos mais diversos órgãos e entidades da sociedade civil e do poder constituído. Vale a pena se aprofundar no assunto e participar desse importante momento que a comunicação social brasileira está vivendo. Acesse, leia os seguintes documentos e mergulhe de cabeça na luta por uma comunicação mais democrática, plural e participativa.

Até a próxima!

- Jovens apresentam propostas para a Conferência Nacional de Comunicação

http://proconferencia.org.br/textos/noticias/juventude-apresenta-propostas-para-a-conferencia-nacional-de-comunicacao/

- Relatório Parcial sobre as concessões e renovações de rádio e TV

www.direitoacomunicacao.org.br/novo/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=271

- Segundo Relatório Parcial sobre as concessões e renovações de rádio e TV

www.direitoacomunicacao.org.br/novo/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=373

- Relatório Final sobre as concessões e renovações de rádio e TV

www.direitoacomunicacao.org.br/novo/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=372

- Revista Concessões de Rádio e TV – Onde a Democracia ainda não chegou

http://www.intervozes.org.br/publicacoes/revistas-cartilhas-e-manuais/revista_concessoes_web.pdf

- Democratização da Comunicação: Como domar essa tal Mídia?

www.fndc.org.br/arquivos/CartilhaFNDC.pdf
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